Como foi que fiquei rico?

* Este texto foi publicado originalmente dia 9 de outubro de 2012 no meu Posterous — que foi assasinado pelo Twitter, contra minha vontade. Posteriormente foi para o Medium e como estou na campanha para que todos sejam donos do seu próprio conteúdo, achei bom imortalizar ele aqui.

Eu sempre gostei de ganhar dinheiro. Nos últimos anos fiz isso muito bem e tentei fazer de uma forma saudável.

Pergunte para as pessoas próximas qual é o sonho delas e a maioria vai ter respostas envolvendo “dinheiro “. Ficar rico, megasena, não precisar trabalhar e coisas deste tipo. E você é capaz de identificar o que elas tem em comum?

Dinheiro? Não. E as pessoas batalham muito por isso: ser ricas com muito dinheiro. Mas a verdade é que todos estes sonhos estão relacionados a apenas uma coisa: liberdade. Você está buscando a riqueza da forma errada. Ser rico é ser livre para fazer o que você quer e isso, sem dúvida, envolve dinheiro.

As pessoas querem ser ricas ganhando muito dinheiro, mas do meu ponto de vista o caminho mais simples e direto para a riqueza não é ganhar muito dinheiro, é não precisar de muito dinheiro. Claro que se o seu sonho envolve iates, cassinos, carros importados e ter o último iPhone na semana de lançamento você vai penar muito mais do que eu para ser rico — e conhecendo um pouco a cabeça das pessoas, ouso deixar escrito que quem tem esta visão de riqueza nunca será rica o suficiente.

Eu venho treinando a minha vida inteira “para ser rico”, e olhando pra trás, sempre fui. Sempre trabalhei com o que gosto, mas este ano é diferente. Este ano conquistei a liberdade, estou saindo de um emprego gratificante para me aventurar e fazer outras coisas que eu quero: estudar, escrever e principalmente cuidar do Eu Compraria! e do And After.

Fiquei rico abdicando da minha maior fonte de renda.

Memória fraca

Existem situações da vida que me fazem desejar ter um um cérebro que funcione muito bem. Não que eu não pense, bem pelo contrário. Tenho orgulho de meu raciocínio lógico e capacidade para aprender (esnobe, ein?). Mas quando se trata de lembrar fatos acontecidos, nomes de ruas ou pessoas e faces eu sou um completo incapacitado. Imaginem a situação…
Mais uma tarde normal de um dia normal, você cambaleava pelo vagão esmagado entre axilas fedorentas, buscando uma barra de ferro para ficar apoiado. Encontra e lá se estabelece, faz o seu recanto. Doce recanto de vagão, só quem anda sabe o que isto significa. Aquele espaço que não importa quem está fedendo do seu lado, tentando te comer de roupa mesmo ou simplesmente robando sua carteira, o tempo ali não anda. E não anda mesmo, porque aquela travessia te atormenta diariamente abaixo do asfalto cinza e quente da cidade grande. Saindo da estação com a cabeça já ligada no mundo, você caminha rápido, por costume mesmo. Uma mulher se aproxima:

– Quanto tempo! – e parte para o abraço.
– Oi… – apavorado.

Você tá ali, frente aquela desconhecida que sabe seu nome. “Golpe”, pode ser seu primeiro pensamento, mas a sinceridade está estampada no rosto da mulher, não pode ser.

– E aí, como tem passado?

Agora você tem duas opções: ou você fala que não lembra dela, exigindo uma ajuda para recordar ou você liga o ventilador para provavelmente, muito em breve atirar a merda. É claro que você, bom brasileiro e ser humano, gosta de merda e escolhe seguir a conversa.

– Vou muito bem, e você?
– Bem também… continua na empresa?
– Continuo.. e você o que está fazendo?

Já é alguma coisa, você provavelmente conhece ela da empresa. Márcia, não. Marta, não. Acho que era com M, não. A Marinês já havia falecido, logo depois de se aposentar. Quem é? Qual será o nome?

– Continuo na mesma – ótimo, como se você soubesse o que é a mesma.

Você, mesmo sem querer, faz aquela cara “que porra é essa, mermão?” e ela percebe. Agora vai complicar, se o indivíduo for um canalha ele vai te perguntar coisas, pela pura arte da sacanagem. Diversão do ser humano é foda: ver os outros na merda.

– Não tá lembrando de mim não, né?
– Lembro sim.. e aí, tem falado com o pessoal?

Isso, começou a atirar merda no ventilador. Perguntar do pessoal é infalível, todo mundo tem um pessoal. Agora é só pescar um nomes.

– Não.. ninguém!
– Ninguém mesmo? Nem o… o…
– O Marcos?
– Isso! O Marcos

Você é esperto, se faz de bobo e consegue um nome. Busca em sua memória, e o único Marcos que você conhece é budista e mora no Ziniguistão.

– Não.. desde o acidente que não falo com ele!

Agora complicou mesmo, fica cada vez mais complicado de jogar verde e o assunto toma um rumo: a desgraça e humilhação da sua pessoa. Se complicar mais um pouco, a única saída seria simular um ataque fulminante para sair do diálogo com a honra intacta, de maca. Mas você prefere continuar o diálogo.

– Que triste foi, não é?
– É.. mas você se recuperou bem! Que bom!
– A vida continua…
– É verdade.
– Bom, tenho que ir

Quase lá, vai sair intacto deste papinho mermão! Continua assim que se você tiver sorte, é a última vez que se cruzam por ali. Continua vasculhando em sua memória, Marcos, Marcos.. e nada.

– Então tá!
– Até mais, foi um prazer te ver!
– Digo o mesmo Otávio!

Otávio? Porra, não é teu nome.