Investimento: tempo e retorno

Nos últimos dois anos não acompanhei muito o mercado financeiro como fiz nos anos anteriores a este e fiz pouquíssimas mudanças na minha carteira de investimentos em renda variável – com certeza bem menos mudanças do que deveria, e isso custou tanto em prejuízos como em oportunidades perdidas.

Pensando neste cenário – que talvez seja o da maioria dos investidores que não são profissionais, seria muito mais sensato alocação apenas em renda fixa que exigira muito menos tempo de análise e risco envolvido – ou simplesmente comprar índice caso quisesse exposição a bolsa.

E é pensando neste cenário que darei meus não solicitados 2 centavos de guru financeiro: se você não tem milhões alocados e/ou não GOSTA de relatórios financeiros, não faz sentido a tentativa de “cherry picking” ou escolha de poucas ações.

Eu considero quase um hobby ler relatórios analíticos de casas de research pois me traz conhecimento sobre novos mercados, sobre gestão e sobre contabilidade e finanças de maneira geral, que acaba me ajudando na gestão dos mercadinhos e até da empresa de tecnologia – além de satisfação na leitura (normalmente).

Mas em análise de tempo investido x resultado, pro meu patrimônio, não tenho certeza que este tempo seria mais lucrativo se eu tivesse me dedicando aos empreendimentos, trabalho ou carreira.

Hoje resolvi fazer um acompanhamento da carteira, evolução dos ganhos com dividendos desde que voltei a investir em RV e planilhar tudo

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— Anão Gigante (@gserrano.dev) 19 de novembro de 2024 às 23:24

Nos últimos 5 anos consegui diversificar fontes de renda com a franquia de mercados autônomos, airbnb (eco-turismo / turismo rural) e continuando com a minha carreira como consultor de tecnologia e programador (pego freelas e outsourcing para empresas, me contrate).

Estes 3 negócios, em menos de 5 anos, já me deram muito mais retorno financeiro do que 10 anos investindo – inclusive optei por não continuar alocando dinheiro em mercado financeiro e estou planejando uma construção que deve iniciar em 2025 – o plano de aposentadoria segue apressado.

Ainda é possível que você me encontre por aí falando sobre investimento e renda variável – mas espero sempre deixar o disclaimer que imho só fará sentido se:

A) a atividade de investir tomar pouco tempo ou
B) você já for um multi-milionário

E, ciente de toda a problemática do discurso meritocrático, se nem A nem B são verdades a única saída é mesmo trabalhar ou empreender, se for uma possibilidade.

Recentemente eu fiz algo que sempre tive curiosidade mas nunca havia feito: contratei um consultor independente para acompanhamento de carteira (e finanças no geral), nos próximos meses talvez eu tenha uma opinião formada se é uma coisa que faz sentido ou não.

Power Pose e o efeito do super herói

Muita gente já ouviu falar sobre aquela coisa meio coach de “power pose” para melhorar auto-estima, confiança, etc.

Mas você já ouviu falar sobre o efeito do super-herói?

Fizeram um estudo com 30 crianças e vestiram capa em 15 delas antes de passarem a mesma instrução de uma tarefa.

As crianças que estavam de capa performaram 21% melhor que as que estavam sem capa.

Eu sei que você já está pensando em outra coisa de coach que é o “se vista para o emprego que você quer“:

Mas não podemos sair fazendo tudo o que vemos sobre divulgação científica sem entender como os estudos foram feitos, neste caso que citei por exemplo, infelizmente nenhuma criança sobreviveu ao ser jogada da ponte – mas as capas realmente ajudaram a aumentar o tempo de permanência no ar.

Comida de ralo

Acabei de desligar meu computador quando ouvi Bia gritar da cozinha:

– Para de comer comida de ralo cara!

Senti um frio percorrer meu corpo e do escritório, com a voz meio trêmula, segui o estranho diálogo:

– O que? Comida de ralo???
– Esse gato, tá na pia!

Que susto, achei que meu segredo havia sido descoberto.

Ciclos

Ontem de manhã, perambulando na internet, reli o texto que escrevi no dia em que o Pacato se foi.

Não foi uma leitura intencional e eu nem estava preparado para isso, mas bateu uma tristeza, uma saudade e vieram também as lembranças do gordinho.

Não foi ruim, foi apenas inesperado.

À tarde quando fui assistir TV, num lapso, pensei: “Pacatinho tá sempre no meu lugar”, ao me preparar para sentar no sofá e perceber um vulto preto deitado no meu lugar de costume.

Rapidamente voltei à realidade e sorri com mais esta lembrança, aproveitando para afofar o culpado — era o Tom, relaxadíssimo esticado no sofá.

Fiquei dividido entre Arquivo X e os três gatinhos, embolados e colados para ganhar um cafuné.

Vida longa ao RSS

Se tem uma coisa que sinto saudade, é desta internet:

“Eu só queria entrar no google, fazer uma busca e achar um texto. Não um vídeo, não as melhores promoções. (Um texto útil, escrito por uma pessoa para uma pessoa)” @nigelgoodman

Salvem os blogs e sejam donos do conteúdo e do meio de distribuição.

Nunca me arrependi de pedir demais

Estou negociando a compra de um terreno para um pequeno empreendimento imobiliário e, nas últimas semanas, foi só com este assunto que meu cérebro aceitou gastar tempo e energia.

Esta última semana me fez refletir que as melhores negociações que eu já fiz foram as que eu menos me importava com a conclusão positiva do acordo. Essa postura nos faz recusar qualquer proposta que não seja excepcional.

A melhor entrevista de emprego que eu já fiz foi do emprego que eu não queria. O sítio que eu comprei foi quase sem querer.

Mas desta vez eu queria que desse certo pois já tinha investido um mês em pesquisa, comparativos com outros imóveis e uma semana bastante intensa para verificar viabilidade de crédito – horas de áudios e mensagens no whatsapp com vendedores em busca do plano ideal para conseguir dinheiro mais barato do mercado.

Para “comprar dinheiro”, sem falsa modéstia, minha negociação foi boa. Não tinha receio nenhum de perder uma “boa compra” pois o dinheiro na porta ao lado vale a mesma coisa, e se custar um centavo a menos, é lá que eu vou.

Mas o terreno é um só. E com medo de pedir demais, fiz uma proposta apenas 10% abaixo do valor pedido inicialmente. O receio era pedir demais e fechar a porta para uma negociação.

Mas tenho quase certeza que uma proposta, mesmo que ridícula, se feita com educação não fecha uma porta – e começa uma conversa.

Em negociação eu nunca me arrependi de pedir demais.

É possível trabalhar apenas 4h por dia?

Este texto foi publicado originalmente em 30 de Outubro de 2017 no meu Medium e estou trazendo para cá para preservação do conteúdo.

Acho importante um disclaimer antes de falar sobre um assunto que pode soar pedante, como a possibilidade de reduzir a carga horária de trabalho.

Meu objetivo é trabalhar menos e continuar ganhando a mesma coisa, mas sei que isso é um privilégio e, infelizmente, não é uma possibilidade para a maioria das pessoas. Principalmente em época de crise econômica, política e flexibilização de leis trabalhistas como a que estamos vivendo no nosso circo de “ordem e progresso”.

Não quero soar como mais um texto sobre os “jovens que largaram tudo para fazer o que amam”. Já não sou jovem e nem larguei tudo. Este é um texto sobre produtividade, mas cada um sabe onde o sapato aperta e sabe o que pode ou não fazer. Mas muita gente pode e não sabe que pode.

Isto esclarecido, vamos falar de trabalhar menos.

Autonomia

O primeiro passo para poder trabalhar menos é ter autonomia sobre o seu próprio trabalho. Isto pode ser em um emprego ou, no meu caso, como profissional autônomo. Aqui vou abordar apenas minha experiência como profissional autônomo.

Apesar de dinheiro não ser o foco neste texto, é difícil falar de autonomia sem falar da parte financeira. Para ter autonomia é necessário ter opções, e para ter opções é necessário poder dizer não. Para dizer não, você precisar ter tranquilidade financeira para escolher apenas boas oportunidades.

Para conseguir tranquilidade financeira é necessário que você tenha um relacionamento saudável com o dinheiro — e isso infelizmente é incomum. Por falta de educação financeira ou por relacionamento problemático com o dinheiro, muitas pessoas auto-boicotam sua vida financeira.

Não vou me aprofundar neste assunto mas antes de continuar lendo recomendo que você leia o curto texto “como foi que fiquei rico (não vai levar 2 minutos).

Por que 4 horas?

Há dois meses decidi criar e testar formas para chegar até dezembro deste ano com uma rotina de trabalho de no máximo 5 horas diárias e reduzir para 4 horas no próximo ano.

Com a redução de carga horária eu não pretendo reduzir minha renda mensal e nem as entregas que faço para clientes, então o objetivo é melhorar minha produtividade.

Já testei algumas metodologias e ferramentas de produtividade e organização: scrum solo, kanban, scrum em times, pomodoro, gtd e inbox 0. Fui adaptando o que melhor me servia de cada uma das ferramentas e técnicas. Mas uma constante é que, inconscientemente, uma tarefa provavelmente vai levar todo o tempo disponível para ser feita.

Também aprendi que tenho períodos de euforia altamente produtiva e períodos de ansiedade improdutiva e acredito que a redução de carga horária está me ajudando a ser mais produtivo.

Decidi reduzir minha carga horária para melhorar a qualidade do meu tempo trabalhado e também minha qualidade de vida, pois tenho mais tempo livre para lazer, ócio criativo e estudar.

Lawn at rest, de Jonas Bengtsson

Como eu estava trabalhando

Antes eu tentava manter meu horário de trabalho entre 8:00 e 18:00, com bastante flexibilidade no horário de início e fim. As vezes começava as 7, as vezes a 9. Mas procurava sempre manter 8 horas trabalhadas por dia.

Criando um expediente de 5h de trabalho

Para conseguir reduzir as horas trabalhadas e controlar a culpa que anos de treinamento em escola e trabalhos nos ensinando de que o “jeito correto” é trabalhar 8 horas por dia, decidi criar uma rotina e tentar seguir uma agenda, pelo menos até isso virar um hábito e eu estar confortável com os novos horários.

Criei uma agenda para controlar os horários que não estou trabalhando exatamente para evitar que eu trabalhe. Se você é freelancer, autônomo ou tem seu próprio negócio deve saber que não trabalhar é uma tarefa difícil.

Meu dia ideal nesta nova rotina é assim:

7:00 — Comida, academia, desenhos
Voltei a praticar exercícios regularmente há 8 meses e isso me ajudou a reduzir a insônia. Eu costumava praticar exercícios no fim do dia apenas, experimentei começar o dia com isso depois de ouvir alguns relatos sobre “morning routine” dessas entrevistas e textos de auto-ajuda. Hoje não trocaria o horário, com exercícios matinais fico muito mais disposto durante o dia e começo o dia com a mente mais tranquila do que acordar e dar de cara com um problema na minha inbox de e-mails.

Como bom Hobbit, faço 2 cafés da manhã. Um antes e um depois da academia, no segundo costumo assistir algum desenho animado também, se eu acordei cedo o suficiente.

10:00 — Leitura
Defini 1 hora do dia exclusivamente para leitura e faço isso antes de começar a trabalhar. Aqui vale qualquer conteúdo: blogs, relatórios financeiros, lista dos novos frameworks de JS lançados enquanto eu dormia, bitcoin, tecnologia ou algum livro.

Ao definir 1 hora de leitura percebi que passei a selecionar melhor o que leio, pois fica explícito que meu tempo é limitado. Evito interromper meu dia para leitura depois desse horário, mas não me privo de algum link sensacional que quero ler e surgiu durante o dia.

11:00 — E-mails e organização do kanban
As 11 eu começo a minha primeira hora de trabalho — e utilizo GTD para isso, sou adepto do inbox zero. Respondo todos os meus e-mails, transformo o que é necessário em tarefas para executar depois (utilizo kanban para isso, no Trello) e entrego pequenas tarefas que estão nos e-mails e são rápidas de resolver. Também faço as priorizações e definições de tarefas neste período.

12:00 — Almoço
Depois de organizar as tarefas vou almoçar e normalmente assisto alguma coisa depois do almoço. Estava assistindo séries depois do almoço mas recentemente voltei a assistir um TED por dia, sobre qualquer assunto.

14:00 — Trabalhar
Aqui é onde sinto que o dia começar a ser produtivo. Até as 16:00 eu trabalho nas tarefas que já estão priorizadas e definidas, então é sentar e quebrar a cabeça. Utilizo a técnica Pomodoro (25min trabalhados e intervalo de 5min), se você pratica trabalho intelectual e não conhece a técnica do pomodoro, testá-la é o melhor conselho que eu posso te dar. Teste sem preconceito, mesmo que pareça uma técnica muito boba no início, eu tive este preconceito quando li sobre ela pela primeira vez.

16:00 — Lanches
Descanso, comida e assistir algum vídeo do youtube, TED, seriado ou vídeo de mágica.

16:30 — Trabalhar
Verifico novamente meus e-mails e respondo o que puder ser respondido de forma rápida. Volto a trabalhar até as 18:30 nas tarefas do dia.

18:30 — Cursos
Estou tentando voltar a fazer aulas sobre outras áreas (normalmente no Coursera). Neste ponto estou falhando nas últimas semanas e talvez torná-lo público me ajude a voltar a ter comprometimento com os estudos.

Esta agenda serviu de guia inicial para eu conseguir controlar as horas trabalhadas. Quando comecei a me sentir confortável testei flexibilizações e fui adaptando conforme as necessidades de cada dia.

Nas últimas semanas testei trabalhar até as 20h e fazendo um intervalo maior durante a tarde ou não trabalhando durante a manhã — mas não achei a experiência boa e resolvi voltar novamente para o planejamento inicial.

A adaptação inicial não foi simples. Eu controlava horários para parar e iniciar o trabalho de forma mais rígida e isso parecia cercear minha autonomia, mas achei importante fazer isso para criar os hábitos que queria na minha rotina.

Está funcionando?

Nem sempre consigo ficar dentro das 5 horas trabalhadas e estou ciente que esta programação de horário é apenas um guia.

Se acontece algo em um projeto de cliente e isso vai quebrar minha rotina eu não me sinto culpado por trabalhar mais nestes dias. Também não me importo de aproveitar períodos que estou super produtivo com jornadas de trabalho um pouco maiores, mas ainda estou aprendendo a compensar com dias de mais descanso (e improdutividade) depois deste período.

Tomo cuidado para que estas quebras de rotina não se tornem comuns e isso prejudique meu objetivo principal: ter mais qualidade nos horários que trabalho e mais tempo livre, sem reduzir meus ganhos financeiros.

De maneira geral, consegui reduzir minha carga horário e estou me sentindo bastante produtivo. Acredito que em 2 meses ainda estou em período de adaptação, mas estou sentindo que a qualidade do que estou entregando também está melhor pois estou trabalhando de uma forma mais tranquila.

Sexta-feira, pela primeira vez em muito tempo eu conseguir zerar todas as minhas pendências de entrega e esta sensação é extremamente boa. Encerrar um dia de trabalho sem nenhuma pendência é libertador pra mente e para o ócio criativo e eu estava sentindo muita falta disso.

Estou bastante satisfeito com este experimento e pretendo continuar com ele para chegar nas 4 horas em 2018.

Você já tentou redução de carga horária? O que pensa sobre isso? Compartilhe sua experiência nos comentários! 🙂

Obrigado, gordinho

Das milhares de coisas que passam na minha cabeça numa despedida como essa, a mais recorrente é “obrigado”.

Como disse a Bia hoje, “até o dia está triste”. Céu nublado, chuva e hoje a difícil decisão de deixar você finalmente descansar, depois de tanto lutarmos nestas últimas semanas que foram as mais difíceis que tivemos.

Foi lá em 2014 que o senhor andava permbulando pelos arredores de casa, como quem não quer nada. Cuidando das suas coisas, aproveitando o solzinho mas sempre atento a tudo, com a safadeza cativante que viver na rua te exigia.

Enquanto eu lia no sol tu chegou devagarinho, se aconchegou e deitou, ganhando dengo.

Sábio que sempre foi, neste encontro foi só isso. Ronronou, aproveitou o dengo e saiu no momento certo pra não deixar impressão de que era um grande folgado.

Logo apareceu de novo, e de novo, e a gente já imaginava: acho que agora temos um gato.

Mas foi só quando você entrou em casa, subiu no nosso sofá e se esparramou super a vontade que a ficha caiu: “ih, agora temos um gato mesmo!”.

Foi rápido, uns 2 meses de encontros e você já virou dono dessa casa.

O que precisa comprar?

Como é que funciona caixa de areia? Meu deus, quantos tipos de areias existem?

O que come? Quanto de água? Será que é vacinado? Será que é macho mesmo?

Um verdadeiro professor, que chegou ensinando e partiu ensinando.

Ensinou a ter paciência, a entender tuas comunicações seja por miados, pelo rabinho de gancho balançando ou pela cara (de desdém).

Ensinou que a hora do dengo importa e que um colinho faz toda a diferença num dia ruim.

Me ensinou a querer menos, ensinamento que de tempos em tempos a vida exige que seja relembrado.

Com a senioridade chegando, ensinou também a ter paciência, a adaptar a casa para você. Uma escadinha, um banquinho, uma prateleira pra ficar mais fácil subir na janela. Uma ração de milionário pra evitar que o problema nos rins se agrave.

Mas você também foi aluno, dizem que nada na vida é de graça e você pagou um preço por tanto amor recebido: teve que aguentar o Leon, que chegou uns anos depois e te apurrinhou até a senioridade.

Eu sei que ele não te dava um dia de paz, mas sei que você ao longo destes anos de convivência também sentiu aí no seu carinho felino, um “leonzinho, obrigado.”

Deu banho, cuidou, aceitou e conviveu cheio de dengos com ele.

Agora o mais doloroso dos ensinamentos que você deixou e que enquanto escrevo este texto com os olhos mareados ainda parece ser muito injusto e no tempo errado, é sobre a finitude da vida.

Em cada canto dessa casa que eu já te vi, instintivamente te procuro e dói saber que nunca mais vou te encontrar.

Que falta vai fazer ter que pedir licença todo dia para ver TV, pois compartilhamos o mesmo lugar preferido no sofá (bem na frente do ventilador e deitados escorados na almofada), de poder te pegar no colo vendo um desenho qualquer ou ouvindo música.

Não te ver no meu travesseiro e saber que quando eu começo a arrumar a cama para deitar, você vai se adiantar e correr pra deitar abraçado com Bia – e quando ouvir o beep do ar condicionado ou do ventilador, vai responder com um meow curtinho (nunca soube se em protesto ou comemoração).

Você encheu até os meus dias mais terríveis de carinho e amor.

Obrigado, Pacatinho.

Resistência

Pra ler ouvindo: ain’t no rest for the wicked

Sempre falo que o despertador peão é inexorável, incansável, obstinado e, com certa frequência, insuportável.

Peão nenhum resiste: quando é a hora de acordar, é a hora de acordar. Pode ser horrível ser um escravo da vontade de estar ativo e hoje não foi diferente. Apesar de exausto das conturbadas últimas semanas do ano, exatamente às 7 horas abro o olho e o cérebro desperta como se tivesse acabado de receber uma descarga de adrenalina: que coisas eu tenho que resolver hoje?, é o primeiro pensamento que surge, seguido da lembrança que hoje é dia de não fazer nada. Finalmente.

Um comichão se espalha pela pele: como assim, não fazer nada? Lembro que tenho um problema de vazamento no telhado que está improvisado mas ainda precisa de uma solução definitiva. Em um corajoso ato de resistência a produtividade, decido que isso pode esperar mais um ou dois dias.

Fecho o olho e fico deitado prestando atenção na inquietude da minha cabeça, já querendo fazer um café e, no mínimo, ir jogar um joguinho planilhável (onde a alta produtividade/performance é o objetivo).

Sabendo que a noite exigiria estar acordado para celebrar a virada de ano, sigo com meu bravo ato de resistência. Fecho os olhos e fico rolando na cama, atormentado pela improdutividade. Minha mão encontra o gato deitado na cama, ronronando, e fico acariciando ele até eu conseguir pegar no sono novamente.

Acordei outra vez acelerado – comemorei silenciosamente que consegui dormir mais, esperando já ser tarde. Peguei o celular e lutando contra o brilho da tela vejo que ainda são 8 horas. Protesto em silêncio contra mim mesmo e num esforço consciente faço o impensável: nada. Não me movo, não levanto, não fico olhando o celular.

Decido prosseguir em um combate onde a vitória é impossível: “eu vou deita o despertador peão”, penso imóvel e de olhos fechados.

Afundo a cabeça debaixo do travesseiro buscando a escuridão completa, vou tateando procuro o gato que segue dormindo ao meu lado e que começa a ronronar quando encosto nele. Talvez seja este o meu caminho para o descanso, uma atividade prazerosamente improdutiva como acariciar o gato.

Deitado e na lutapara não virar um brasileirinho, segurando meu ímpeto de fazer algo produtivo, luto contra as ideias que vão surgindo, que vão de varrer a calçada a lavar louça, ariar panela. Segui aguerrido mantendo os olhos fechados. Descansar, descansar, descansar, eu repetia mentalmente, como um mantra.

Adormeci. Não posso dar certeza, mas provavelmente sonhei com a vitória do peão sobre o ímpeto produtivo.

Acordei (pela última vez este ano, turupish) e já era mais de 9 horas. “Venci!”, pensei sonolento. Sonolento? O que tá acontecendo? Eu descansei mais, eu deveria no mínimo estar com o ânimo de quando acordei antes.

Acordei completamente lesado. O cérebro percebendo tudo com atraso, com dificuldade pra compreender o mundo – comparável a jetlag ou a um comprimido de melatonina que bateu errado.

Cansado demais para fazer qualquer coisa, incapaz inclusive de descansar. Pelo menos 3 horas em um estado de dormência, mas acordado. Um zumbi, perambulando pela casa, e só tem uma coisa que é possível fazer neste estado: doomscrolling no youtube.

O despertador peão é inexorável, quando é hora de levantar, é hora de levantar.

Você usa alguma coisa?

Fui pagar o almoço e pedi um expresso. A moça me entregou o café, olhou lá na minha alma e perguntou:

– Você usa alguma coisa?

– … normalmente só álcool, mas o que tu tem aí? – respondi meio espantado com a pergunta

– Açúcar ou adoçante, senhor?