Obrigado, gordinho


Das milhares de coisas que passam na minha cabeça numa despedida como essa, a mais recorrente é “obrigado”.

Como disse a Bia hoje, “até o dia está triste”. Céu nublado, chuva e hoje a difícil decisão de deixar você finalmente descansar, depois de tanto lutarmos nestas últimas semanas que foram as mais difíceis que tivemos.

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Foi lá em 2014 que o senhor andava permbulando pelos arredores de casa, como quem não quer nada. Cuidando das suas coisas, aproveitando o solzinho mas sempre atento a tudo, com a safadeza cativante que viver na rua te exigia.

Enquanto eu lia no sol tu chegou devagarinho, se aconchegou e deitou, ganhando dengo.

Sábio que sempre foi, neste encontro foi só isso. Ronronou, aproveitou o dengo e saiu no momento certo pra não deixar impressão de que era um grande folgado.

Logo apareceu de novo, e de novo, e a gente já imaginava: acho que agora temos um gato.

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Mas foi só quando você entrou em casa, subiu no nosso sofá e se esparramou super a vontade que a ficha caiu: “ih, agora temos um gato mesmo!”.

Foi rápido, uns 2 meses de encontros e você já virou dono dessa casa.

O que precisa comprar?

Como é que funciona caixa de areia? Meu deus, quantos tipos de areias existem?

O que come? Quanto de água? Será que é vacinado? Será que é macho mesmo?

Um verdadeiro professor, que chegou ensinando e partiu ensinando.

Ensinou a ter paciência, a entender tuas comunicações seja por miados, pelo rabinho de gancho balançando ou pela cara (de desdém).

Ensinou que a hora do dengo importa e que um colinho faz toda a diferença num dia ruim.

Me ensinou a querer menos, ensinamento que de tempos em tempos a vida exige que seja relembrado.

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Com a senioridade chegando, ensinou também a ter paciência, a adaptar a casa para você. Uma escadinha, um banquinho, uma prateleira pra ficar mais fácil subir na janela. Uma ração de milionário pra evitar que o problema nos rins se agrave.

Mas você também foi aluno, dizem que nada na vida é de graça e você pagou um preço por tanto amor recebido: teve que aguentar o Leon, que chegou uns anos depois e te apurrinhou até a senioridade.

Eu sei que ele não te dava um dia de paz, mas sei que você ao longo destes anos de convivência também sentiu aí no seu carinho felino, um “leonzinho, obrigado.”

Deu banho, cuidou, aceitou e conviveu cheio de dengos com ele.

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Agora o mais doloroso dos ensinamentos que você deixou e que enquanto escrevo este texto com os olhos mareados ainda parece ser muito injusto e no tempo errado, é sobre a finitude da vida.

Em cada canto dessa casa que eu já te vi, instintivamente te procuro e dói saber que nunca mais vou te encontrar.

Que falta vai fazer ter que pedir licença todo dia para ver TV, pois compartilhamos o mesmo lugar preferido no sofá (bem na frente do ventilador e deitados escorados na almofada), de poder te pegar no colo vendo um desenho qualquer ou ouvindo música.

Não te ver no meu travesseiro e saber que quando eu começo a arrumar a cama para deitar, você vai se adiantar e correr pra deitar abraçado com Bia – e quando ouvir o beep do ar condicionado ou do ventilador, vai responder com um meow curtinho (nunca soube se em protesto ou comemoração).

Você encheu até os meus dias mais terríveis de carinho e amor.

Obrigado, Pacatinho.


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