Nunca me arrependi de pedir demais

Estou negociando a compra de um terreno para um pequeno empreendimento imobiliário e, nas últimas semanas, foi só com este assunto que meu cérebro aceitou gastar tempo e energia.

Esta última semana me fez refletir que as melhores negociações que eu já fiz foram as que eu menos me importava com a conclusão positiva do acordo. Essa postura nos faz recusar qualquer proposta que não seja excepcional.

A melhor entrevista de emprego que eu já fiz foi do emprego que eu não queria. O sítio que eu comprei foi quase sem querer.

Mas desta vez eu queria que desse certo pois já tinha investido um mês em pesquisa, comparativos com outros imóveis e uma semana bastante intensa para verificar viabilidade de crédito – horas de áudios e mensagens no whatsapp com vendedores em busca do plano ideal para conseguir dinheiro mais barato do mercado.

Para “comprar dinheiro”, sem falsa modéstia, minha negociação foi boa. Não tinha receio nenhum de perder uma “boa compra” pois o dinheiro na porta ao lado vale a mesma coisa, e se custar um centavo a menos, é lá que eu vou.

Mas o terreno é um só. E com medo de pedir demais, fiz uma proposta apenas 10% abaixo do valor pedido inicialmente. O receio era pedir demais e fechar a porta para uma negociação.

Mas tenho quase certeza que uma proposta, mesmo que ridícula, se feita com educação não fecha uma porta – e começa uma conversa.

Em negociação eu nunca me arrependi de pedir demais.

É possível trabalhar apenas 4h por dia?

Este texto foi publicado originalmente em 30 de Outubro de 2017 no meu Medium e estou trazendo para cá para preservação do conteúdo.

Acho importante um disclaimer antes de falar sobre um assunto que pode soar pedante, como a possibilidade de reduzir a carga horária de trabalho.

Meu objetivo é trabalhar menos e continuar ganhando a mesma coisa, mas sei que isso é um privilégio e, infelizmente, não é uma possibilidade para a maioria das pessoas. Principalmente em época de crise econômica, política e flexibilização de leis trabalhistas como a que estamos vivendo no nosso circo de “ordem e progresso”.

Não quero soar como mais um texto sobre os “jovens que largaram tudo para fazer o que amam”. Já não sou jovem e nem larguei tudo. Este é um texto sobre produtividade, mas cada um sabe onde o sapato aperta e sabe o que pode ou não fazer. Mas muita gente pode e não sabe que pode.

Isto esclarecido, vamos falar de trabalhar menos.

Autonomia

O primeiro passo para poder trabalhar menos é ter autonomia sobre o seu próprio trabalho. Isto pode ser em um emprego ou, no meu caso, como profissional autônomo. Aqui vou abordar apenas minha experiência como profissional autônomo.

Apesar de dinheiro não ser o foco neste texto, é difícil falar de autonomia sem falar da parte financeira. Para ter autonomia é necessário ter opções, e para ter opções é necessário poder dizer não. Para dizer não, você precisar ter tranquilidade financeira para escolher apenas boas oportunidades.

Para conseguir tranquilidade financeira é necessário que você tenha um relacionamento saudável com o dinheiro — e isso infelizmente é incomum. Por falta de educação financeira ou por relacionamento problemático com o dinheiro, muitas pessoas auto-boicotam sua vida financeira.

Não vou me aprofundar neste assunto mas antes de continuar lendo recomendo que você leia o curto texto “como foi que fiquei rico (não vai levar 2 minutos).

Por que 4 horas?

Há dois meses decidi criar e testar formas para chegar até dezembro deste ano com uma rotina de trabalho de no máximo 5 horas diárias e reduzir para 4 horas no próximo ano.

Com a redução de carga horária eu não pretendo reduzir minha renda mensal e nem as entregas que faço para clientes, então o objetivo é melhorar minha produtividade.

Já testei algumas metodologias e ferramentas de produtividade e organização: scrum solo, kanban, scrum em times, pomodoro, gtd e inbox 0. Fui adaptando o que melhor me servia de cada uma das ferramentas e técnicas. Mas uma constante é que, inconscientemente, uma tarefa provavelmente vai levar todo o tempo disponível para ser feita.

Também aprendi que tenho períodos de euforia altamente produtiva e períodos de ansiedade improdutiva e acredito que a redução de carga horária está me ajudando a ser mais produtivo.

Decidi reduzir minha carga horária para melhorar a qualidade do meu tempo trabalhado e também minha qualidade de vida, pois tenho mais tempo livre para lazer, ócio criativo e estudar.

Lawn at rest, de Jonas Bengtsson

Como eu estava trabalhando

Antes eu tentava manter meu horário de trabalho entre 8:00 e 18:00, com bastante flexibilidade no horário de início e fim. As vezes começava as 7, as vezes a 9. Mas procurava sempre manter 8 horas trabalhadas por dia.

Criando um expediente de 5h de trabalho

Para conseguir reduzir as horas trabalhadas e controlar a culpa que anos de treinamento em escola e trabalhos nos ensinando de que o “jeito correto” é trabalhar 8 horas por dia, decidi criar uma rotina e tentar seguir uma agenda, pelo menos até isso virar um hábito e eu estar confortável com os novos horários.

Criei uma agenda para controlar os horários que não estou trabalhando exatamente para evitar que eu trabalhe. Se você é freelancer, autônomo ou tem seu próprio negócio deve saber que não trabalhar é uma tarefa difícil.

Meu dia ideal nesta nova rotina é assim:

7:00 — Comida, academia, desenhos
Voltei a praticar exercícios regularmente há 8 meses e isso me ajudou a reduzir a insônia. Eu costumava praticar exercícios no fim do dia apenas, experimentei começar o dia com isso depois de ouvir alguns relatos sobre “morning routine” dessas entrevistas e textos de auto-ajuda. Hoje não trocaria o horário, com exercícios matinais fico muito mais disposto durante o dia e começo o dia com a mente mais tranquila do que acordar e dar de cara com um problema na minha inbox de e-mails.

Como bom Hobbit, faço 2 cafés da manhã. Um antes e um depois da academia, no segundo costumo assistir algum desenho animado também, se eu acordei cedo o suficiente.

10:00 — Leitura
Defini 1 hora do dia exclusivamente para leitura e faço isso antes de começar a trabalhar. Aqui vale qualquer conteúdo: blogs, relatórios financeiros, lista dos novos frameworks de JS lançados enquanto eu dormia, bitcoin, tecnologia ou algum livro.

Ao definir 1 hora de leitura percebi que passei a selecionar melhor o que leio, pois fica explícito que meu tempo é limitado. Evito interromper meu dia para leitura depois desse horário, mas não me privo de algum link sensacional que quero ler e surgiu durante o dia.

11:00 — E-mails e organização do kanban
As 11 eu começo a minha primeira hora de trabalho — e utilizo GTD para isso, sou adepto do inbox zero. Respondo todos os meus e-mails, transformo o que é necessário em tarefas para executar depois (utilizo kanban para isso, no Trello) e entrego pequenas tarefas que estão nos e-mails e são rápidas de resolver. Também faço as priorizações e definições de tarefas neste período.

12:00 — Almoço
Depois de organizar as tarefas vou almoçar e normalmente assisto alguma coisa depois do almoço. Estava assistindo séries depois do almoço mas recentemente voltei a assistir um TED por dia, sobre qualquer assunto.

14:00 — Trabalhar
Aqui é onde sinto que o dia começar a ser produtivo. Até as 16:00 eu trabalho nas tarefas que já estão priorizadas e definidas, então é sentar e quebrar a cabeça. Utilizo a técnica Pomodoro (25min trabalhados e intervalo de 5min), se você pratica trabalho intelectual e não conhece a técnica do pomodoro, testá-la é o melhor conselho que eu posso te dar. Teste sem preconceito, mesmo que pareça uma técnica muito boba no início, eu tive este preconceito quando li sobre ela pela primeira vez.

16:00 — Lanches
Descanso, comida e assistir algum vídeo do youtube, TED, seriado ou vídeo de mágica.

16:30 — Trabalhar
Verifico novamente meus e-mails e respondo o que puder ser respondido de forma rápida. Volto a trabalhar até as 18:30 nas tarefas do dia.

18:30 — Cursos
Estou tentando voltar a fazer aulas sobre outras áreas (normalmente no Coursera). Neste ponto estou falhando nas últimas semanas e talvez torná-lo público me ajude a voltar a ter comprometimento com os estudos.

Esta agenda serviu de guia inicial para eu conseguir controlar as horas trabalhadas. Quando comecei a me sentir confortável testei flexibilizações e fui adaptando conforme as necessidades de cada dia.

Nas últimas semanas testei trabalhar até as 20h e fazendo um intervalo maior durante a tarde ou não trabalhando durante a manhã — mas não achei a experiência boa e resolvi voltar novamente para o planejamento inicial.

A adaptação inicial não foi simples. Eu controlava horários para parar e iniciar o trabalho de forma mais rígida e isso parecia cercear minha autonomia, mas achei importante fazer isso para criar os hábitos que queria na minha rotina.

Está funcionando?

Nem sempre consigo ficar dentro das 5 horas trabalhadas e estou ciente que esta programação de horário é apenas um guia.

Se acontece algo em um projeto de cliente e isso vai quebrar minha rotina eu não me sinto culpado por trabalhar mais nestes dias. Também não me importo de aproveitar períodos que estou super produtivo com jornadas de trabalho um pouco maiores, mas ainda estou aprendendo a compensar com dias de mais descanso (e improdutividade) depois deste período.

Tomo cuidado para que estas quebras de rotina não se tornem comuns e isso prejudique meu objetivo principal: ter mais qualidade nos horários que trabalho e mais tempo livre, sem reduzir meus ganhos financeiros.

De maneira geral, consegui reduzir minha carga horário e estou me sentindo bastante produtivo. Acredito que em 2 meses ainda estou em período de adaptação, mas estou sentindo que a qualidade do que estou entregando também está melhor pois estou trabalhando de uma forma mais tranquila.

Sexta-feira, pela primeira vez em muito tempo eu conseguir zerar todas as minhas pendências de entrega e esta sensação é extremamente boa. Encerrar um dia de trabalho sem nenhuma pendência é libertador pra mente e para o ócio criativo e eu estava sentindo muita falta disso.

Estou bastante satisfeito com este experimento e pretendo continuar com ele para chegar nas 4 horas em 2018.

Você já tentou redução de carga horária? O que pensa sobre isso? Compartilhe sua experiência nos comentários! 🙂