Eles haviam ido pro mato no fim de semana e plantado 7 árvores e cuidado de outras já plantadas no sítio. O sábado foi de trabalho e o domingo, como deveria, foi de preguiça e curtir a casa: assistiu Globo Rural, uns outros programas de TV, cuidou do jardim, tomou chimarrão e foi almoçar na casa dos sogros com a esposa.
Chegando em casa no fim da tarde começou a sentir uma transformação acontecendo.
Parecia eletrizante, uma energia estranha para um domingo. Pensou que fosse só o excesso de cafeína do mate agindo – mas rapidamente se transformou em uma vontade incontrolável, um ímpeto que foi tomando conta da sua mente e rapidamente parecia estar controlando também o seu corpo.
Não foi direto para o computador jogar ou verificar as atividades de trabalho para a próxima semana e nem se atirou no sofá ver TV, muito menos foi aproveitar o resto do domingo com a esposa que queria assistir os jogos da NFL.
Na verdade não chegou nem a entrar em casa direito. Tentou racionalizar mas não conseguiu entender o motivo daquilo que nunca foi coisa relevante para sua vida agora estar lhe incomodando tanto.
Parecia que ele tinha que aproveitar o domingo para fazer aquilo, como se fosse o último dia do mundo para eliminar aquele “problema”.
Entrou em casa apenas para pegar o material necessário e voltou para a rua, de onde observou o problema mais uma vez antes de começar a agir. Chegou a sorrir com a ideia de terminar aquilo.
Naquele momento sentiu que estava assistindo um filme da sua vida estreiado por outro ator, numa atmosfera meio Adam Sandler de sandálias. Se sentia um mero espectador do que estava ocorrendo.
Estava envergonhado mas não conseguia parar, seguiu até o final. Terminou com um misto de orgulho e vergonha.
Só retomou completamente a consciência quando finalmente havia terminado. Soltou a mangueira, as mãos ainda estavam ensaboadas, a havaiana molhada escorregando do seu pé.
Aconteceu muito mais rápido do que uma mudança de personalidade normalmente ocorreria. Em uma excêntrica metamorfose Gregor Samsa, sem perceber, se tornou o homem que lava o carro no final de semana – tal qual um brasileirinho.
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[…] e na lutapara não virar um brasileirinho, segurando meu ímpeto de fazer algo produtivo, luto contra as ideias que vão surgindo, que vão […]